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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tabagismo e Doença Periodontal

Diferentes fatores de risco interferem na saúde periodontal, entre eles o tabagismo. O hábito de fumar causa uma série de alterações locais e sistêmicas ao organismo humano e a cavidade oral é o primeiro órgão afetado, sendo fator de risco para câncer bucal, maior severidade e incidência da doença periodontal, menor ganho de inserção após terapia periodontal, dificuldades de reparação de enxertos ósseos, inadequado preenchimento sanguíneo dos alvéolos após extrações dentárias, menor taxa de sucesso de implantes de titânio e maior perda óssea ao redor de implantes já osseointegrados.

EFEITOS SOBRE A RESPOSTA IMUNOLÓGICA
Os efeitos do fumo sobre a resposta imunológica do hospedeiro determinam a suscetibilidade à infecção bacteriana. A nicotina, cotinina e aldeídos, metabólitos presentes na saliva e fluido sulcular de fumantes crônicos, alteram os principais processos tais como: adesão, morfologia, proliferação e síntese protéica. A secreção de epinefrina, induzida pela nicotina, ativa o sistema nervoso simpático, causando inicialmente uma vasodilatação, seguido por uma vasoconstrição. Essa constrição da microcirculação dificulta a chegada das células inflamatórias no tecido e sulco gengival, comprometendo o sistema de defesa local. O fumo pode alterar a atividade dos neutrófilos, reduzindo quimiotaxia, atividade fagocitária e aderência dessas células. A nicotina também age induzindo os neutrófilos a apoptose, o comprometimento local dos macrófagos e leucócitos, suprimindo seu crescimento e suas funções de quimiotaxia e fagocitose. Além dos efeitos celulares, o tabagismo é capaz de reduzir a produção de anticorpos como IgG2, bem como aumentar a secreção de PGE2 quando a nicotina estava associada ao LPS, sugerindo que esta associação apresenta um efeito sinérgico na síntese de mediadores do processo inflamatório.

EFEITOS NA MICROBIÓTA PATOGÊNICA
Estudos avaliando o acúmulo de biofilme dental mostraram que não existem diferenças entre fumantes e não fumantes neste aspecto. Os resultados de avaliações qualitativas da composição do biofilme têm sido controversos. Alguns estudos relataram que os tipos de bactérias presentes no biofilme de fumantes e não fumantes não variam significativamente. Por outro lado diversos estudos têm observado uma maior colonização por patógenos periodontais no biofilme subgengival de fumantes. As alterações no potencial de oxiredução causadas pelo cigarro podem criar um microambiente mais favorável para o crescimento de bactérias anaeróbias gram-negativas. Zambom et al. demonstraram um maior número de bactérias periodontopatógenas em fumantes, se comparado aos não fumantes, incluindo Porphyromonas gingivalis, Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Bacteróides forsytus. Outras espécies bacterianas como Prevotella intermédia, Fusobacterium nucleatum e Campylobacter rectus também estavam em número aumentado em pacientes fumantes.

EFEITOS NA CONDIÇÃO PERIODONTAL
Estudos demonstram que há maior profundidade de sondagem, perda de inserção e mais dentes com envolvimento de furca nos fumantes, constatando também maior índice de perda óssea e perda dentária. O consumo de tabaco pode apresentar um efeito mascarador dos sinais de inflamação tecidual; a ocorrência de sangramento gengival é reduzida devido à ação vasoconstritora da nicotina na microcirculação do tecido gengival. Carranza Júnior (1997) relatou as seguintes alterações em fumantes: mudanças na coloração da estrutura dentária e gengival, leucoplasia da gengiva, estomatite nicotínica, retardo da cicatrização, aumento transitório do fluxo de liquido gengival, gengivite e periodontite mais graves, maior acumulo de cálculo. Martinez, Rossa Júnior (2002) verificaram que parte dos efeitos nocivos associados ao tabaco pode ser resultante de sua interação com células que compõe o periodonto, sendo os fibroblastos as principais células predispondo assim o indivíduo a uma maior extensão e severidade de destruição periodontal. A nicotina pode ser absorvida pelos tecidos moles e aderir-se a superfície dentária, alterando os padrões de adesão dos fibroblastos gengivais e fibroblastos do ligamento periodontal.

EFEITOS NA TERAPIA PERIODONTAL
A nicotina pode afetar os processos de reparo e regeneração tecidual através dos seus efeitos diretos nas células e estruturas que compõem os tecidos periodontais. Indivíduos fumantes, após raspagem e alisamento radicular, apresentam menor redução na profundidade de sondagem e menor ganho de inserção clínica em relação aos não fumantes. Os fumantes parecem requerer tratamento periodontal mais extenso, pois são mais propensos a apresentar doença periodontal, de moderada a avançada, que é diretamente relacionada com o número de cigarros fumados por dia. Outros trabalhos demonstraram que o consumo de tabaco promove uma reposta menos favorável após a terapia cirúrgica e não cirúrgica, procedimentos como enxertos de tecido mole, regeneração tecidual guiada (RTG) e em tratamentos de lesões de bifurcação radicular. Em estudo realizado foi constatado também a maior chance de recessão gengival e hipersensibilidade em fumantes. Dados de um estudo longitudinal que acompanhou durante cinco anos, 90 pacientes que receberam tratamento periodontal não cirúrgico, mostraram que os fumantes apresentam uma maior necessidade de nova intervenção cirúrgica (acesso para raspagem ou extração) em comparação aos não fumantes.

Fontes:
Piassi E.O, Lara P.A, Fonseca D.C, Fagundes V.V; O Fumo como Fator Modificador da Doença Periodontal. Rev Intern de Periodontia Clínica 2005; 2(5): 67-73.
Carvalho A.E, Santos I.G, Cury V.F; A Influência do Tabagismo na Doença Periodontal: Revisão de Literatura. SOTAU R. Virtual Odontol. 2008, 2(5):7-12.
Sallum A.W, Neto J.B.C, Sallum E.J; Tabagismo e a Doença Periodontal. Ver. Periodontia. jun 2007, 17 (2):45-53.
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