O entrevistado é Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pela UERJ-RJ; pós-graduado em Cirurgia Bucomaxilofacial e Implantodontia, pela NU - Chicago; Mestre em Cirurgia de Cabeça e Pescoço, pelo Instituto Heliópolis - SP e Doutor em Implantodontia, pela UFSC - Santa Catarina. Foi pioneiro nos implantes osseointegrados no início dos anos 90 e presidente da Academia Brasileira de Osseointegração. Atualmente é o Coordenador do Curso de Especialização em Implantodontia do Sindicato dos Odontologistas do Paraná – SOEPAR.
Quem o influenciou a fazer Odontologia?
Meu avô Flavio Zétola era Cirurgião Dentista e desde pequeno ouvia muitas histórias sobre ele, tais como: ele foi o primeiro CD a levar um paciente ao hospital para ser atendido com anestesia geral; ou então que ele atendia o povo carente da Colônia Muricy de bicicleta e depois ainda pedalava o motor odontológico, por que lá não tinha energia elétrica. Tempos difíceis, mas que ele superou. Foi o orgulho da família de irmãos dentistas práticos e o primeiro a fazer o curso de Odontologia mesmo casado, tendo que estudar e dar sustento para quatro filhos pequenos. Finalmente, a história mais bonita dessa saga que escutei, foi da minha falecida avó, que deixou de ir à festa de formatura dele, pois com o dinheiro que gastaria no vestido, pôde comprar o anel de formatura. Sendo assim ele conseguiu formar-se, pois naquela época ninguém se formava sem um anel. Mulher de muita fibra e como diz o ditado: “Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher”. Depois ainda no começo do meu curso de Odontologia tive o prazer de poder auxiliar o meu tio, Clementino Zétola, irmão menor do meu avô, com quem tive a oportunidade de aprender a extrair um dente como ninguém e aprendi muitos valores de vida que me ajudaram a forjar meu caráter. No final do dia de trabalho sempre me levava para sua casa e com minha tia Dinacir, convidavam para jantar e contavam muitas histórias de vida da nossa família.
Onde fez a faculdade e quais suas lembranças deste tempo?
Fiz na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. As lembranças são muitas: bons amigos que cultivo até hoje e muitos professores que foram mais do que educadores. Seria injusto citar nomes, mas acho que alguns foram fundamentais, como o Prof. Antônio Tommasi que me levava para sua casa e junto com sua esposa ajudava-me a organizar as Jornadas Acadêmicas na época em que era presidente do CAOGS (Centro Acadêmico de Odontologia Guido Straube). Lembro que uma vez ficamos conversando até tarde com o Prof. Onofre Quadros de Porto Alegre que daria um curso no Congresso de Ponta Grossa no outro dia de manhã. Para variar, eu é que fui levá-lo, super tarde da noite, na famosa cerração da estrada de Ponta Grossa nas noites frias de inverno. Chegamos quase de manhã, mas são e salvos.
O Prof. Miranda que muitas vezes levou-me em sua clínica e me ensinou fotografar, deu-me uma lição que eu nunca esquecerei. Ele sempre dizia: quem tem apenas um instrumental, não tem nenhum”. Uma grande verdade na cirurgia, porque se não se tem um material sobressalente, em uma contaminação de um instrumento, pode-se ficar na mão. Outra pessoa especial foi o Prof. Narciso Grein, que sempre me orientou, sobre minha conduta e apresentação. Quando cheguei do meu curso de pós-graduação nos Estados Unidos me chamou para dar aula com ele.
Lembro bem do Prof. Luciano Melo que sempre me dava lição de vida e chegou até a me ajudar financeiramente comprando roupas que nem gostava para que eu pudesse comprar meu material. Desde o primeiro ano da faculdade eu trabalhava vendendo livros, roupas, objetos de decoração e que eu pudesse para poder me manter sem pedir auxílio para meus pais. Também o Prof. Milton da odontopediatria, que me protegia na Clínica Integrada do meu ímpeto de discutir com o Coordenador por pequenas coisas.
Na cirurgia, O Prof. Denis Martins que me deixou ver a primeira cirurgia em um hospital: uma fratura de zigomático, algo de outro mundo na época. O prof. Silvio Baras que nos mostrava cirurgias no Hospital Erasto Gaertner e ensinava sobre as próteses que fazia no laboratório de biomateriais que criou um pioneiro na época. E finalmente, o Prof. Manoel Eduardo, que me ensinou muito de cirurgia e de vida e reclamava muito porque quando eu dava plantão no Evangélico, fazia sutura de perna, de braço, participava de cirurgia de estômago e trazia as guias do SUS para ele cobrar pela buco e na verdade ele não podia cobrar nada disso...
São várias histórias como estas, dos meus grandes mestres que nunca esquecerei, pois me ajudaram muito em toda a minha vida. Um conselho que dou a quem está na graduação é fazer o que eu fazia: duvidava de tudo, contestava, espremia meus professores ao máximo e tinha lições de vida que nunca se esquece. Também participar de todos os cursos e congressos, estagiar em todas as áreas e ver o que os outros fazem de diferente e por que.
Como foi seu início na profissão?
Desde o último ano da faculdade já sabia que faria cirurgia bucomaxilo, então desde lá foquei minha vida nessa direção. No último ano quis saber aonde era o melhor curso de especialização do Brasil, que era a UERJ sob coordenação do Prof. Paulo Medeiros. Foi para lá que direcionei minhas forças. Estudava todos os dias até de madrugada, no último ano, para passar na prova super concorrida mais de vinte para um. Felizmente, fiz a prova em janeiro e passei, voltei em fevereiro para colar o grau e em março iniciei minha especialização tão almejada. Terminado meu curso de dedicação exclusiva de dois anos na UERJ, fui fazer uma pós nos Estados Unidos, na Universidade North Western em Chicago sob o convite do Prof. Roger Kallal, outro mestre que nunca mais esqueci junto com o Dr. Medeiros do Rio, os quais me ensinaram tudo o que sei sobre cirurgia. Em Chicago fui apresentado a Implantodontia, que na época, em 1991 era considerada “bruxaria”...
E aí começou a minha segunda paixão: os Implantes Dentários. Em 92 cheguei a Curitiba com uma mão na frente e outra atrás, mas tinha uma excelente formação e peguei meus slides e fui de porta em porta mostrar o que eu fazia. Tive a ajuda de um grande amigo, o Armando Petrelli, que me emprestou um consultório para trabalhar, e de lá para cá, corri sempre atrás dos meus ideais.
Qual foi o seu caso mais difícil?
Uma fratura que operamos recentemente: o acidente foi tão grave que a paciente teve toda a face esmagada, perdeu um dos globos oculares e tinha pedaços da carroceria do caminhão dentro da caixa craniana. Mas graças a Deus, pois acho que muitas vezes Ele está atrás de nossas mãos, o resultado estético ficou muito bom e ela ficou com poucas sequelas neurológicas.
E um que tenha sido o mais gratificante?
Foi o do Dr. Euclides Scalco. Fizemos um caso grande e deu tudo certo. Tempos depois, ele em uma entrevista em uma revista sua, há oito anos foi-lhe perguntado quem era o seu dentista e ele disse que era o Dr. André Zétola, há vários anos. Eu acho que a melhor parte da nossa profissão, não é o dinheiro que você recebe, mas sim o reconhecimento e a gratidão dos seus pacientes.
Qual foi o marketing que usou para começar?
Sempre fui atrás de técnicas novas, baseadas em evidências científicas e tentei fazer uma divulgação em cima disso. Fui o primeiro profissional a colocar uma página inteira de propaganda na lista telefônica e outra na revista Veja do Paraná. Acho que quando você fala a verdade e é competente, tem mais é que divulgar isso.
Qual seu livro ou autor preferido na profissão?
Na Implantodontia o prof. Daniel Buser e meu amigo Sascha Jovanovic; nas Ciências básicas o meu amigo Paulo Coelho, famoso PC e na Buco o Dr. Ellis III.
Como está vendo o presente momento na Odontologia?
Bem difícil, muito concorrido, mas nunca falta espaço para quem é competente.
A que atribui o seu sucesso profissional?
Muita luta, garra e muita vontade de vencer. Muita perseverança, muita observação dos movimentos da especialidade e das outras especialidades afins, além de muito estudo, muitos congressos e muitas noites sem dormir.
Como espera ser o futuro da profissão?
A engenharia genética dominará nossa profissão com os fatores de crescimento, os transplantes de órgãos feitos em laboratórios, os novos produtos e finalmente, os novos métodos de imagem para diagnóstico e planejamento quebrarão paradigmas.
Deixe uma sugestão ou mensagem para os mais novos:
Ver para onde a massa vai e correr para o outro lado, verificar as novas técnicas baseadas em evidências científicas e ser pioneiro nisso. E finalmente, nunca ter medo de realizar os seus sonhos, pois na verdade uma conquista, nada mais é do que um sonho que se tornou realidade.
A palavra é sua para suas considerações finais.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer a todos os colegas que participaram, tanto como palestrantes, organizadores e aos congressistas do Congresso da Academia Brasileira de Osseointegração, que foi realizado em junho desse ano no Palácio de Convenções do Anhembi. Discutiram-se muitos temas bem atuais, recentes e controversos, dos quais o auditório pode tirar normas e condutas, destacando-se o das novas tendências de enxertos ósseos através de fatores de crescimento (BMP), os quais são bastante requisitados atualmente.
Entrevista completa: http://www.odontex.com.br/entrevistas/andre_luiz_zetola.htm