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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Avaliação Ortodôntica na Infância


Como ciência, o objetivo principal da ortodontia é estudar o crescimento craniofacial e o desenvolvimento da oclusão dentária, desde a gestação até a idade adulta. Todo esse conhecimento é aplicado ao tratamento de pacientes, no sentido de identificar precisamente as causas das maloclusões, prevenindo-as, quando possível, ou corrigindo-as, harmonizando as arcadas dentárias e devolvendo-lhes a estética facial agradável e função adequada.

A ortodontia se enquadra em três objetivos distintos: preventivo, interceptativo e corretivo. As manobras preventivas são feitas em idade infantil no intuito de manter a integridade dos tecidos bucais e evitar migrações dentárias indesejadas para áreas de eventuais perdas precoces de dentes decíduos (dente de leite), portanto ainda não existe o estabelecimento da maloclusão. As manobras interceptivas são indicadas no momento em que a maloclusão está se instalando e tem o objetivo de impedir a evolução do processo e até contorná-lo plenamente quando possível. O tratamento corretivo ocorre após o estabelecimento de relações anormais na dentição permanente completa.

ORTODONTIA PREVENTIVA

A melhor ortodontia preventiva é a manutenção dos dentes decíduos, evitando sua perda precoce por cárie ou trauma. Quando perde-se algum dente de leite antes do período correto, pode existir migração dos dentes permanentes vizinhos a ele em direção ao local de perda dentária, gerando falta de espaço para acomodação dos demais dentes permanentes. A maior migração é dos dentes posteriores em direção anterior e, no primeiro mês após a perda, ocorre a maior quantidade de migração e maior perda de espaço. Pode-se lançar mão de aparelhos fixos ou removíveis para evitar esta migração. Alguns dos fixos são arco lingual, arco palatino e banda-alça, já os removíveis são as placas ortodônticas com dentes de acrílico.
O arco lingual e o palatino devem ser utilizados na dentição mista, quando os primeiros molares permanentes já estão presentes na cavidade bucal. É um arco de metal ajustado internamente ao arco dentário. Evita o deslocamento indesejado dos primeiros molares permanentes inferiores para frente e a inclinação dos incisivos permanentes inferiores para trás.

A banda-alça consiste em um anel colocado em um molar, com braço de extensão (fio metálico) sobre o espaço da perda dentária até o outro dente vizinho. É indicado para perda precoce unitária de dentes decíduos posteriores.
Arco Lingual - Banda Alça

As placas ortodônticas dependem, integralmente, da colaboração do paciente, pois o sucesso do tratamento depende do seu uso constante. São placas de acrílico suportadas por dentes e mucosas, utilizando-se grampos para fixação e dispondo de dentes de acrílico no espaço a ser mantido. O paciente deve submeter-se a consulta de controle com período frequente, para fazer desgaste no dente de acrílico, no intuito de não interferir na erupção do dente permanente naquele espaço.

ORTODONTIA INTERCEPTATIVA

Durante o crescimento e desenvolvimento da criança, pode observar-se alguns desvios da normalidade como cruzamento anterior e/ou posterior de mordida, excessiva protrusão superior e alterações decorrentes de hábitos atípicos. Ao deparar-se com alguma situação em que o desenvolvimento do paciente possa beneficiar o tratamento ou que a maloclusão esteja prejudicando a sucessão deste processo, a ortodontia interceptiva está indicada.

Mordida Cruzada Anterior Dentária
Esta condição é, geralmente, conseqüência de um desvio na trajetória de um ou poucos dentes no sentido do seu aparecimento na cavidade bucal. A correção pode ser feita nos estágios mais iniciais da erupção dentária por meio da pressão digital (com dedo) e espátula de madeira com função de alavanca. Mais avançado na evolução da maloclusão pode-se utilizar aparelho que dispõe plano de 45º com o dente cruzado e placas ortodônticas com grampos e molas digitais pressionando o dente cruzado no sentido de sua posição correta.


Mordida Cruzada Anterior Esquelética
Esta maloclusão representa a sobressaliência dos dentes inferiores e osso basal correspondente em relação aos superiores. Os inferiores posicionam-se externamente aos superiores, invertendo a condição normal da mordida na região anterior. Os dentes acompanham o osso basal no qual estão dispostos. A correção é feita com o redirecionamento do crescimento por meio de aparelhos de ancoragem (ponto de resistência) externa a cavidade bucal como a mentoneira e a máscara facial de tração reversa maxilar. O tratamento deve persistir durante todo o crescimento puberal, para a obtenção de efeito terapêutico significativo e estável. O sucesso depende da colaboração do paciente no uso dos aparelhos e do grau de severidade da maloclusão.

Mordida Cruzada Posterior Dentária
Ocorre o envolvimento de um ou poucos dentes, devido ao desvio no seu eixo de erupção, com a relação normal dos ossos basais. Alguns dentes apresentam-se com inversão da mordida na região posterior. O tratamento pode ser feito com placas de acrílico removíveis com parafuso de ativação, ou com dispositivos fixos como os arcos palatinos modificados. A ativação é mensal e o movimento desejado envolve o conjunto dento-alveolar.


Mordida Cruzada Posterior Esquelética
Existe desarmonia transversa entre os arcos basais, sendo o superior mais estreito que o inferior. O tratamento é ortopédico, buscando harmonizar as bases ósseas através da separação induzida da sutura palatina mediana. O aparelho é fixo, suportado pelos dentes e mucosa palatina, dispondo de parafuso expansor que quando ativado afasta, no sentido transverso, as regiões posteriores do arco superior. A ativação é diária, uma vez que a correção é esquelética e a força deve ser gradativa, durante quinze dias a um mês. Terminada esta fase, faz-se contenção de no mínimo seis meses. Esta interceptação em situações extremamente favoráveis pode conferir a total correção da maloclusão, dispensando o tratamento corretivo mais tarde. O citado procedimento tem a resalva de que os ossos maxilares, na sutura palatina mediana, não estejam totalmente fusionados, fato que ocorre próximo aos quinze anos de idade.






Protrusão Maxilar
A sobressaliência do arco superior é percebida cedo na vida da criança. É interceptada, preferencialmente, no surto de crescimento puberal por meio de aparelhos extra-orais. Esta manobra é procedida geralmente após a erupção dos primeiros molares e antes da erupção caninos permanentes. Em média, nas meninas este período fica em torno dos dez anos de idade, enquanto nos meninos fica a cerca dos doze anos. O tratamento tem duração até o final do crescimento puberal.

Uma das maloclusões mais comuns decorrentes de hábitos atípicos é a mordida cruzada aberta na região anterior e na posterior, sendo que nesta última pode apresentar-se uni ou bilateralmente. Os hábitos mais comuns na origem desta condição são interposição do lábio e língua entre os dentes superiores e inferiores, respiração bucal, utilização prolongada de chupeta ou mamadeira, sucção digital (chupar dedo) e a colocação de objetos na boca, como: brinquedo, lápis e caneta.

O primeiro objetivo do tratamento visa eliminar a causa. Pode-se lançar mão de alguns aparelhos como grade lingual ou palatina, com pontas ativas ou não, para impedir a consolidação do hábito, aparelho removível para corrigir diastema, placa ativada pelo lábio para impedir sua interposição. 
Grade Palatina